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Oncologista Dr. Uanderson Resende destaca tudo que você precisa saber sobre o câncer de mama

Entrevista e texto: Natália Tiezzi – Assessoria de Comunicação Santa Casa/SAVISA

Não apenas em outubro, mas em novembro, dezembro, enfim, o ano todo é tempo de se falar e de se prevenir o câncer de mama. E para destacar tanto a informação quanto a prevenção à doença, o site e jornal online Minha São José traz entrevista com o médico oncologista e responsável pelo Setor Oncologia SAVISA, Dr. Uanderson Resende, que abordou o que precisamos saber sobre o câncer de mama , inclusive a importância do entendimento de tudo que a envolve, inclusive sintomas e tratamentos.

Confiram, abaixo, a entrevista, na íntegra

Dr. Uanderson, o que é, em síntese, o câncer de mama?

Dr. Uanderson Resende: É um tumor maligno, que surge na mama em mulheres e também de homens, porém é mais prevalente no sexo feminino (para uma média de 100 mulheres, há um homem com a doença). O tumor surge das glândulas mamárias.

Qual é a idade em que ele pode acometer mais as mulheres?

Acomete mais entre as idosas. A idade é um importante marcador de prognósticos. Entretanto e geralmente mulheres mais idosas tem câncer de mama menos agressivo do ponto de vista genético. Ao passo que as mulheres mais jovens têm a doença de forma mais agressiva. Elas costumam ter cânceres de maior associação genética ou de herança familiar.

Quais os principais fatores de risco?

A herança familiar/genética existe como fator de risco, mas ao contrário do que muitos pensam, não é tão expressiva no câncer de mama. Não há muitos casos de câncer de mama atribuíveis às mutações genéticas, sendo que estes são minoria. Os principais fatores de risco consideráveis são os ambientais: modificáveis e não modificáveis. Como já citado a idade, que é relevante; tempo de estrogênio exposto no organismo (mulheres que tiveram menarca precoce corre risco maior, e mulheres com menopausa tardia também aumenta o risco da doença). Mulheres que fazem reposição hormonal estrogênica também aumentam riscos à doença. Com relação às etnias, mulheres negras, afrodescendentes e latino hispânicas parecem desenvolver formas mais agressivas. Como algumas causas raras, podemos citar mulheres que se submeteram a radioterapia do tórax. Tabagismo e etilismo são associações menores à probabilidade de desenvolver câncer de mama.

O câncer de mama também pode acometer aos homens?

Sim, pode ocorrer em homens, já que eles também tem glândulas mamárias, porém são muito hipotróficas. Tanto que homens que recebem alguns medicamentos, como espironolactona, por exemplo, podem desenvolver o aumento de mamas, que é chamado de ginecomastia. Entretanto, nos homens, não existe indicação de rastreamento à doença, sendo que a incidência é de um caso da doença em homem para aproximadamente 100 casos de câncer de mama diagnosticados em mulheres.

Quais são os principais sintomas da doença?

A grande maioria dos pacientes descobre a doença por meio de mamografia e não apresenta sintomas, pois através deste rastreamento se chega ao diagnóstico. O autoexame, ou seja, a apaupação é excelente para busca ativa da doença também. Entre os sintomas, destaca-se alteração do relevo da mama, do mamilo, como inversão. Já a dor não é comum, mas em alguns casos podem acontecer, além da pele com uma textura um pouco diferente e sensação de nódulo. Entretanto, em casos em que a doença já está em estágio bastante avançado, podem haver sintomas mais exuberantes, embora não seja o comum, como a mama apresentando uma grande massa, necrótica, às vezes com odor fétido, ou lesões à distância, chamadas de metástases como, por exemplo, dor nos ossos, dispneia por conta de metástase do pulmão, porém a parcela de mulheres com sintomas exuberantes é mínima.

Quando a mulher deve buscar ajuda?

Existe o rastreamento para o câncer de mama, defendido pela Sociedade Brasileira de Oncologia e Mastologia a partir dos 40 anos, e com o INCA – Instituto Nacional do Câncer posicionando o mesmo após os 50 anos. Então, naturalmente, mesmo que a mulher não tenha sintomas, é importante que ela entenda que esse exame é um exame importante a ser realizado e de forma periódica, geralmente defendido a sua realização anual. Ela também deve buscar ajuda profissional quando apresentar algum tipo de sintoma, como os já citados acima. Este profissional solicitará exames clínicos complementares para avaliar se há presença de tumor, se benigno ou maligno, enfim, que possa diferenciar a etiologia da lesão observada.

Além do médico, em caso de diagnóstico positivo, quais outros profissionais a paciente deve procurar?

Se a paciente está em tratamento, com a doença curada ou não, se apresenta mestástase, este deve ser sempre multidisciplinar. O tratamento/acompanhamento da doença não deve ser realizado apenas pelo médico especialista, (oncologista, radioterapeuta ou cirurgião), mas envolve a enfermagem, já que muitos pacientes são submetidos a cateteres, pulsões, além de orientações sobre cuidados gerais. Além disso, o psicólogo também é fundamental para ofertar o cuidado e todo arcabouço psicológico a este paciente, bem como nutricionista, com apoio importante em relação à nutrição, o educador físico, que ajuda na reabilitação, enfim toda um equipe multidisciplinar, que é relevante ao acompanhamento que já tem o diagnóstico, está em tratamento ou esteve em tratamento e precisa lidar com as sequelas.

Qual é o papel da família em relação ao paciente diagnosticada com câncer de mama?

O papel da família é de extrema relevância ao paciente que está em tratamento do câncer, pois é um tratamento que tem uma grande carga emocional, psíquica, física. O paciente precisa de forte apoio da família, às vezes até por questões econômicas, sociais. Todo um arcabouço precisa ser ofertado ao paciente e a família é este ponto de apoio. Cria-se, para algumas doenças, um superdimensionamento, colocando-a num grau de avanço, de dano, que é desproporcional, então a família precisa compreender até que o ponto o tratamento pode ser sim tóxico ou não. Também é importante a família entender as potenciais sequelas, efeitos colaterais em caso de pacientes com doenças já metastáticas, e entender os apoios que este paciente possa requerer no futuro, todo cuidado que isso envolve. Tudo isso parte de um princípio muito lógico que é a compreensão e ela só é conseguida após o entendimento e bom entendimento do caso.

Quais são as principais formas de prevenção?

É fundamental que a prevenção baseie-se na conscientização para que haja uma quebra das barreiras do preconceito, estigmas e a paciente, assim, possa ter uma informação correta e proporcional adequada à ela. E, a partir disso, possa, com juízo racional adotar aquilo que seja melhor para ela. Tecnicamente, ela precisa estar em consulta com médico regular, de sua confiança, para que possa ouvir uma palavra técnica, que seja adequada para ela, dentro daquilo que é sua cultura e seu conhecimento. E caso esteja na faixa etária do rastreamento para o câncer de mama, a mamografia é o principal exame. Outros exames complementares, como o ultrassom de mamas e axilas ou a ressonância de mamas podem ser requeridos pelo profissional quando ele entender que são cabíveis

Por que o Ministério da Saúde disponibilizou, a partir desse ano, a mamografia a partir dos 40 anos?

Essa mudança que o Ministério da Saúde está pleiteando, com a mudança este ano para 40 anos, visa identificar o câncer de mama numa fase mais precoce, bem como identificar pacientes que potencialmente tem um câncer mais agressivo, e geralmente esse tipo agressivo está localizado nesta faixa etária, abaixo dos 40 anos de idade, porém é muito esporádico, aquele tipo geneticamente modificado. E entre 40 e 50 anos de idade, embora tenhamos um grande número de falsos positivos, você consegue identificar pacientes que tenham um câncer de maior agressividade, e esses sim se beneficiarem do tratamento precoce.

Qual a importância dos exames preventivos?

O exame preventivo é a cerne do tratamento de boa qualidade.Um paciente que descobre um câncer de forma preventiva, na fase inicial. Um câncer descoberto na fase inicial não só traz resultados estéticos melhores, traz resultados curativos, ou seja, a taxa de cura é muito maior, a chance de fazer quimioterapia fica muito menor, e, portanto, as sequelas da quimio também serão menores, assim como da radioterapia. Esse paciente também terá uma carga psíquica menor, porque ele receberá a notícia de que o câncer está na fase inicial e com uma chance de cura maior, e isso traz mais alívio ao paciente, maior capacidade de lidar com a lesão, diferente do paciente que descobre um câncer maior, com maior chance de metástase já ao diagnóstico ou de o câncer retornar após o tratamento, a recidiva tumoral.

Dr., há formas de prevenir o câncer de mama, além dos exames?

Além dos exames, a forma principal de prevenção ao câncer de mama é a conscientização à doença, que é também o cerne de todo o tratamento, não só do câncer, mas de todas as outras doenças conhecidas como ‘doenças crônicas’, sendo assim para o Infarto, para o AVC, para um acidente de trânsito, entre outras doenças. Ou seja, a conscientização é o elemento base para você identificar sinais precoces e se dispor a exames que possam identificar lesões, também de forma precoce.

Quais os principais tratamentos atuais ao câncer de mama?

Os principais tratamento atuais envolvem a Cirurgia, sendo o tratamento principal do câncer de mama, que pode ser uma cirurgia que envolve a retirada de um segmento da mama ou a cirurgia que envolve a retirada total da mama, a depender do tamanho do tumor e da análise do Mastologista. A cirurgia também faz uma avaliação da região axilar, dos linfonódos, que é o primeiro local que em geral o câncer se dissemina. Outro tratamento, além da cirurgia, é a Radioterapia, sendo mais um tratamento complementar à doença, mas em algumas circunstâncias ele é utilizado para combater lesões de metástase ou mesmo controlar alguns sintomas como dor, sangramentos, necroses em tecidos. Já a Hormonioterapia, que são medicamentos que bloqueiam a ação hormonal, é uma outra forma de tratamento que beneficia um grupo de mulheres e homens. Além da Quimioterapia, que pode ser empregada após uma cirurgia, com o objetivo curativo, de diminuir o risco de recidiva do tumor. Ela também pode ser aplicada antes da cirurgia para permitir uma redução do tumor, o que irá ofertar uma cirurgia menor e com maior potencial de chance de cura. Ou a Quimioterapia pode ser emprega a uma paciente que já tem lesões metastáticas, com o objetivo de combate-las, ofertar aumento de sobrevida, diminuir a chance de mortalidade, combater sintomas e melhorar a qualidade de vida. Dentro da Quimioterapia existe um universo de medicamentos, entre eles a que chamamos de clássica, citotóxica, bem como a imonuterapia, que fazem parte de um arcabouço conhecido como Quimioterapia.

Gostaria que o Dr. deixasse uma mensagem às mulheres, tanto chamando a atenção à prevenção, quanto para aquelas que estão passando pela doença.

A mensagem que deixo, tanto às mulheres, por conta do Outubro Rosa, mas aos homens também, com relação ao Novembro Azul, enfim, a todos aqueles que se preocupam em ter uma boa qualidade de vida, é que todas essas Campanhas, que podem ser levadas também a outras doenças além dos cânceres, têm como peça primordial a conscientização, sendo a racionalização do conteúdo, ou seja, leva-lo, dissemina-lo para as pessoas, na linguagem que entendem, para que possam quebrar preconceitos, paradigmas, aceitar e compreender os tratamentos, os limites dos tratamentos, para que, a partir do conhecimento, dos sinais, dos sintomas, da clínica e de outros aspectos das doenças, a pessoa, atenta a eles, possa descobrir os sinais iniciais ou sintomas iniciais e buscar um tratamento precoce, com maior chance de cura e com menor conjunto de efeitos colaterais.

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