A Crônica da Semana – Domingo na Praça anos 80: Você se lembra do ‘seu’ Júlio, da ‘Banda’?
Texto e memórias: Natália Tiezzi
Quem foi criança na década de 80 provavelmente lembra de como eram os domingos na Praça XV. Para muitos, talvez, fosse o único passeio da semana. Muitas famílias se reuniam no logradouro ao cair da tarde e por ali ficavam até à noite, principalmente esperando a ‘furiosa’, a ‘banda’ tocar.
Diferentemente de hoje, quando os músicos se posicionam ao centro do Coreto, na minha época, os músicos ficavam ao redor do espaço. E eu gostava de ficar pertinho de um deles, o saudoso senhor Júlio Figueira, que tocava Tuba, um instrumento que chamava muito a atenção, não apenas pelo tamanho, mas pelo som grave e marcante.
Meu pai me erguia e eu ficava sentada, pelo lado de fora, pertinho do ‘seu’ Júlio. Talvez via naquele senhor um pouco dos meus avôs e ele, sempre muito gentil, nunca incomodou-se comigo ali. Embora serelepe, com quatro, cinco anos, eu ficava quietinha ouvindo tocar.
Acredito que mais do que hoje, o coreto ficava tomado por crianças, que também ficavam próximas aos músicos. Entretanto, para mim, eu gostava mesmo era daquele senhor que tocava aquele instrumento esquisito, e ficava triste quando alguma outra criança tomava ‘meu lugar’ ao lado dele.
Não era só o seu Júlio que me chamava a atenção na Praça aos domingos. Como criança naquela feliz década, os balões com orelhas (que eram caros e que raramente meus pais compravam) e os saquinhos de pipoca também completavam o passeio.
Os carrinhos de pipoca ficavam quase que perfilados à frente da igreja Matriz. Meu pai gostava de comprar do ‘Tavião’, que em minha memória era um senhor negro, magro, com um negócio que parecia uma boina na cabeça, às vezes sorria, às vezes com o semblante mais sério, que sempre caprichava na preparação e no servir. Eu gostava de o ver fazendo a pipoca, naquela panela que ‘girava’ a tampa e logo já se despejava no carrinho.
E, assim, depois de ouvir a Banda ao lado do seu Júlio e comer pipoca do Tavião, às vezes trazendo a ‘bexiga’ orelhuda, eu voltava para casa após o domingo de alegria na Praça. A felicidade estava na simplicidade, na companhia dos pais, irmãos, avós. O pouco se transformava em muito e o menos se tornava mais: mais afeto, mais carinho, mais proximidade, mais conversas, mais risadas, mais vida!
Tempos atrás fiz o mesmo com minhas duas filhas: víamos a banda tocar, comíamos pipoca na Praça… Hoje elas já estão mais crescidas, são de outra geração, e já não frequentam tanto a Praça…
Tive e tenho o privilégio de acompanhar a evolução da Corporação Musical, que mantém a tradição das apresentações as domingos no Coreto, sempre impecáveis e alegres.
E é claro que cada época tem suas características, boas e ruins, mas dificilmente alguma superará a infância de quem foi criança na década de 80…





