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Ana Paula Lacerda: 20 anos dedicados ao Euclidianismo e à Cultura Rio-Pardense

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A curadora da Casa Euclidiana também destacou desafios e momentos marcantes na carreira

Entrevista e texto: Natália Tiezzi

Amigos internautas. Nossa entrevista especial deste sábado destaca um pouco da história de Ana Paula de Paulo Pereira Lacerda, uma paulistana, que adotou São José do Rio Pardo como sua “segunda terra” e que fez da Cultura Euclidiana mais do que um caminho profissional, mas um objetivo de vida, tamanha é sua paixão pela obra de Euclides da Cunha e pelos aspectos culturais rio-pardenses.

Apesar de ter nascido na capital paulista, Ana Paula tinha familiares aqui em Rio Pardo e sempre ouviu da mãe as boas histórias da terrinha que, mais tarde, a acolheria. “Minha mãe falava muito sobre a cultura rio-pardense, em especial o Euclidianismo, a Semana Euclidiana, até porque ela também foi maratonista e aquelas histórias me fascinavam. Eu cresci ouvindo e imaginando tudo isso que era ligado a Euclides da Cunha”, disse.

Entretanto, o primeiro contato que Ana Paula teve com a Cultura Euclidiana foi aos 13 anos. “A escola em que eu estudava em São Paulo participava dos Ciclos de Estudos Euclidianos e fui uma das alunas selecionadas a participar. Foi uma experiência muito enriquecedora, pois ter contato com a obra euclidiana na adolescência me fez abrir os horizontes educacionais, sociais e o pensamento crítico”, observou.

Mal sabia ela que a partir daquela primeira experiência, o Euclidianismo passaria a fazer parte de sua vida profissional. “Quando eu tinha 15 anos, após questões familiares, minha mãe e eu nos mudamos para Rio Pardo. Sempre gostei muito da área de Turismo e fui fazer um curso técnico em Mococa. Em determinado período do curso tive que fazer um estágio e minha avó, também muito engajada nestas questões culturais da cidade, me auxiliou na conquista de uma vaga não remunerada na Casa de Cultura Euclides da Cunha. Daquele momento em diante comecei a vivenciar realmente não apenas a Cultura Euclidiana, mas a cultura rio-pardense como um todo. Neste estágio aprendi e fiz um pouco de tudo, inclusive fui guia turística, conheci as belezas naturais da cidade e depois desempenhei atividades junto ao acervo euclidiano”, contou.

Após prestar concurso, Ana Paula ingressou no serviço público em um local muito especial para ela, a Casa Euclidiana. Atualmente ela é curadora do espaço, que recebe centenas de visitantes anualmente, guardando e preservando relíquias euclidianas e de períodos que marcaram a história brasileira, como a guerra de Canudos.

UM OLHAR DIFERENCIADO ÀS RIQUEZAS CULTURAIS RIO-PARDENSES

Ana Paula disse que após conhecer mais sobre a cultura euclidiana e rio-pardense percebeu a riqueza que a cidade possui, mas que boa parte dos munícipes desconhece. “Pessoas ‘de fora’ como eu enxergamos Rio Pardo com um olhar diferenciado à sua cultura. Agradeço muito àquela escola paulistana que me indicou a participar da Semana Euclidiana, pois essa foi minha oportunidade de conhecer uma cultura diferente e isso fez e faz toda a diferença na minha vida, pessoal e profissionalmente falando. A impressão que às vezes tenho é que o próprio rio-pardense não conhece e por isso não valoriza essa riqueza e diversidade cultural que a cidade tem”, observou.

Como estímulo a conhecer mais sobre tudo o que envolve a cultura da cidade, Ana Paula ressaltou que as escolas poderiam criar oportunidades para que os alunos, desde a infância, tivessem esse contato com a história da cidade por meio do turismo e do próprio Movimento Euclidiano. “O que noto algumas vezes é que instituições de ensino promovem passeios para parques temáticos (o que não acho errado, de forma alguma), mas esquecem de levar os alunos para conhecerem o Museu Rio-Pardense, a Casa Euclidiana, entre outros espaços da própria cidade. Para valorizar a cultura de um lugar é preciso conhece-la. Acredito que falte um pouco desse conhecimento às riquezas da própria terra antes de conhecer e apreciar a de outros lugares”.

Vale lembrar que a Casa Euclidiana está aberta à visitação, cumprindo todos os protocolos de segurança à Covid-19, de segunda a sexta-feira, das 8h00 às 17h00. Visitas fora destes dias e horários também podem ser pré agendadas diretamente na Casa pelo telefone 3681-6424.

MOMENTOS MARCANTES

Ao longo da trajetória de quase duas décadas desenvolvendo trabalhos junto à Cultura Euclidiana, Ana Paula disse que vivenciou momentos desafiadores e marcantes, inclusive porque também ocupou o cargo de Diretora de Cultura do DEC durante quatro anos.

“Dois momentos desafiadores para mim foi com relação à Gripe Suína e agora na Pandemia. Tivemos que nos reinventar para cumprir as ações culturais, mas que nos motivaram a realmente promover ações diferentes, encarar novas atividades e que, graças a Deus, deram certo. Um exemplo disso foi a própria Semana Euclidiana, realizada por meio virtual, sem deixar perder a sua essência, mesmo à distância”, afirmou.

Sobre os momentos marcantes, Ana Paula destacou a rua à frente da Casa Euclidiana tomada pela população para acompanhar a passagem do escritor Maurício de Sousa durante uma das Semanas Euclidianas promovidas na cidade. “Destaco, ainda, o papel social importantíssimo do Movimento Euclidiano, que já abriu e mudou horizontes de muitos alunos, a exemplo de Leandro Leal, que foi maratonista, hoje é doutor e possui uma gratidão e respeito grandes pela cultura euclidiana, a qual contribuiu para sua formação também enquanto cidadão”.

“NÃO VAMOS DEIXAR O MOVIMENTO EUCLIDIANO MORRER”

Ana Paula destacou, ainda, que uma de suas missões pessoais e profissionais é não deixar o Movimento Euclidiano morrer. “A Cultura Euclidiana vai muito além dos estudos à obra de Euclides da Cunha e, ao mesmo tempo, te-la como base torna o Movimento sempre atual, já que traz à tona assuntos que ainda precisam ser debatidos como o Meio Ambiente, as questões de desigualdade social, as lutas e conquistas de povos esquecidos pela sociedade, entre tantos outros”.

Para a curadora, o Euclidianismo não trata apenas de uma questão cultural, mas educacional e social. “A mente de um aluno ou de um munícipe que tem a oportunidade de conhecer a obra euclidiana abre-se para debates, discussões que podem levar a ações no âmbito da cultura, da educação, da socialização. Por isso é tão importante manter o Movimento Euclidiano vivo e, mais que isso, vivenciado pela sociedade”.

Todavia, Ana Paula confessou que não é fácil manter essa grande tradição em meio aos avanços tecnológicos. “O grande desafio é essa readaptação, inclusive da Semana Euclidiana, que já pudemos sentir neste período de pandemia. Temos que modernizar a estrutura, sem mexer no conceito, na essência do euclidianismo. Não é tarefa fácil, mas temos que tentar, sempre. Inclusive, uma dessas variantes dentro do euclidianismo é inserir cada vez mais as mulheres. Já há um movimento feminino, apartidário, dentro da Semana Euclidiana, que está sendo amadurecido para ser definitivamente colocado em prática. A ideia é mostrar a importância da mulher no Euclidianismo, sendo que o Movimento foi basicamente voltado e vivenciado pelos homens por longos anos”.

Sobre seu trabalho específico na Casa Euclidiana, Ana Paula concluiu dizendo que além de mostrar um pouco da história de Euclides da Cunha, a Casa sempre trouxe e trará temas importantes para discussões. “Idealizamos uma Casa que seja mais do que oferecer uma visitação, mas que possibilite encontros de ideias, fomento à cultura, que não seja necessariamente falar sobre Euclides da Cunha, mas abrir o leque de discussões a partir da atualíssima e riquíssima obra euclidiana. O objetivo, não só da Casa Euclidiana, mas de todo o Movimento Euclidiano é conduzir ao pensamento crítico, com ações e atividades voltadas à população, pois essa é a essência do euclidianismo: reunir, discutir, idealizar e realizar, enfim, contribuir à sociedade, numa troca de experiências entre o passado, o presente e o futuro”, finalizou.

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