CIDADESAÚDE

Dante: Uma nova vida, a cada dia, após ficar paraplégico

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Lesão medular não impediu o jovem de lutar pelos sonhos e conquistar seus objetivos

Era um dia de trabalho qualquer onde Dante Lemes dos Santos, com 26 anos, cumpria sua jornada, mas, naquele outubro de 2013, sua vida mudaria para sempre. Após sofrer um grave acidente e fraturar uma das vértebras, o jovem perdeu o movimento dos membros inferiores.

Um dia após o acidente, Dante foi submetido a uma cirurgia e a constatação de sua nova realidade: estava paraplégico. “Um misto de sentimentos ruins tomou conta de mim. Na verdade não sabia como lidar com aquela situação, nova e inusitada, em minha vida. Fiquei sim revoltado, questionando a Deus o motivo de ter acontecido justo comigo, pois sempre procurei ser um cara do bem e fazer o bem…”, contou.

E até mesmo alguns médicos não encorajam o jovem com relação à sua situação. “Para muitos minha vida cessaria em uma cadeira de rodas e eu estaria limitado a aprender o básico como sentar, passar da cadeira para um sofá. Mas eu não queria isso. Apesar de não ter sido fácil, principalmente no primeiro ano após o acidente, pois eu nem saía de casa de tanta vergonha que tinha da mim e até da cadeira de rodas, decidi que poderia fazer a diferença para eu mesmo”, relatou.

Como passava a maior parte do tempo em casa, Dante estudou muito sobre sua condição e através do incentivo do médico urologista Marcelo Maríngolo buscou tratamento na Clínica de Reabilitação Acreditando, em São Paulo. “Fiz dois meses de Fisioterapia home care aqui em São José e por meio do incentivo do Dr. Marcelo, que percebeu que eu realmente precisava me dedicar mais aos exercícios para fortalecer a musculatura do meu corpo, soube do ‘Acreditando’. Comecei a frequenta-lo em 2014 e conciliei com a fisioterapia aqui na cidade no Centro Integrado de Fisioterapia, sendo que frequento o Acreditando até hoje. A fisioterapia aliada a atividades físicas que faço na academia Atletic Comp há três anos me ajudam muito, principalmente a manter o tônus muscular, essencial para que nenhum músculo atrofie em meu corpo”, disse.

“NÃO É PRECISO PERDER PARA DARMOS VALOR”

A frase, dita por Dante durante a entrevista, é um alerta do jovem, que completou 31 anos. “Dizer que eu não sinto falta de algumas coisas seria muita hipocrisia, pois queria muito voltar a jogar futebol. Muitas vezes as pessoas precisam perder algo em suas vidas para valorizar. Após o acidente aprendi a dar valor nas pequenas conquistas do meu dia-a-dia como, por exemplo, tomar um banho sozinho”.

E Dante tem mesmo muito o que comemorar. Seu empenho e dedicação ao tratamento já fez com que ele desse seus primeiros passos. “Foi em 2016, quando usei uma órtese e dei alguns passos. Nas visitas ao neurologista Luís Antônio, de São Paulo, ele é que me pergunta as novidades e não o contrário. Sinto que a cada dia estou dando, literalmente, um passo adiante nesta nova ‘caminhada’, seja com a ajuda da cadeira de rodas ou, aos poucos, com meus próprios pés”.

Esforço e determinação: Dante vai a São Paulo duas vezes por semana, no ‘Acreditando’ para treinamentos, além de fortalecer a musculatura com exercícios físicos

Porém, o jovem disse que a cidade ainda precisa voltar-se à questão da acessibilidade, bem como a políticas educativas e de conscientização à população. “Inclusive há um projeto municipal sobre acessibilidade que está pronto, mas que necessita de continuidade. Gostaria muito de me engajar para coloca-lo em prática. Além disso, o poder público precisa educar e conscientizar a população com relação aos portadores de necessidades especiais. Muitas vezes as pessoas não respeitam uma vaga para cadeirante, por exemplo, porque desconhecem o motivo daquele espaço estar ali, ocupar um espaço maior, enfim, falta conhecimento”.

MOMENTOS MARCANTES

Ao longo destes seis anos paraplégico, Dante passou por muitos momentos marcantes que o fizeram refletir e enxergar novas possibilidades, muitas através do exemplo. Uma delas aconteceu em 2016, quando cadeirantes de Divinolândia e Caconde o visitaram. “Foram pessoas incríveis que conheci. Um deles já estava há 13 anos cadeirante e me mostrou pela 1ª vez um carro adaptado. Dei uma volta e decidi que iria tirar novamente a carteira de motorista, desta vez adaptada. E foi o que fiz. Tive que ir a Mogi Guaçu, mas consegui. Ambos me mostraram que eu era capaz de voltar a dirigir e ter um pouco mais de liberdade e independência. Hoje tenho meu carro adaptado e agradeço muito aquela visita”.

Outra situação especial aconteceu no casamento da irmã, onde Dante adentrou a igreja andando, com o apoio de um andador. “A sensação de colocar os pés no chão e dar pequenos passos, mesmo com dificuldade, foi maravilhoso para mim. Eu chorei muito e todos os convidados também, principalmente minha família”.

E por falar nela, Dante disse que sempre pode contar com o apoio incondicional de sua mãe, pai e irmãs, além da ex-namorada para superar todas as adversidades após o acidente. “Eles são tudo para mim. Minha força, meu estímulo, enfim, tudo mesmo. Até mesmo minha ex-namorada sempre me apoiou muito e sou muito grato a ela também”.

Dias atrás Dante passou por mais uma experiência marcante: visitou o Colégio Unigrau e conversou com crianças de quatro anos. “A visita faz parte de um projeto pedagógico intitulado “Tudo bem ser Diferente”. Foi emocionante ver como elas me olhavam, perguntavam, me questionavam com uma inocência que realmente me marcou muito. E como é importante que a criança tenha contato com o diferente e veja que, apesar das limitações, sou um ser humano assim como elas, assim como qualquer outra pessoa”.

Dante e as crianças: visita fez parte do Projeto “Tudo bem ser Diferente”, desenvolvido pelo Colégio Unigrau

FUTURO: PROCESSOS GERENCIAIS OU ESPORTISTA PARALIMPICO?

E se você pensa que o acidente foi obstáculo para Dante parar de estudar, engana-se. Desde o segundo semestre do ano passado ele cursa Processos Gerenciais, realizado à distância, na UNIP. “Inclusive fica aqui meu agradecimento à UNIP pela acessibilidade que dispõe ao cadeirante, bem como ao excelente curso. Gosto muito dessa área, administração, mas confesso que também gostaria de me dedicar a algum esporte paralímpico. E com certeza vou atrás desse sonho. Não consigo ficar parado, aliás, mente parada na minha condição não é nada bom.Prefiro ocupa-la buscando sempre um aprendizado, uma nova conquista, um novo projeto”.

Para finalizar, Dante deixou uma mensagem para os que, como ele, estão na condição de cadeirantes. “Acho que o principal é ter fé e acreditar em si próprio. Ter em mente que não é aquela lesão que vai limitar os seus sonhos. A sua vontade, dedicação e empenho deve sempre se sobrepor a qualquer dificuldade. Você consegue!”

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