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Dr. Luís Otávio: “A Medicina une as 2 coisas que mais amo no mundo – a ciência e o amor ao próximo”

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Em entrevista ao www.minhasaojose.com.br, o jovem médico falou da carreira e até de milagres que já presenciou ao longo de seus inúmeros trabalhos

Entrevista e texto: Natália Tiezzi

Talento, vocação, dom, amor. A Medicina é complexa não apenas na arte do diagnóstico e da cura, mas reúne essas características nos profissionais que a exercem, a exemplo de nosso entrevistado especial de hoje, o médico Luís Otávio dos Santos Alves. Aos 29 anos, ele não teve influências para seguir a carreira médica e vem de uma família muito humilde, “de pessoas cujas vidas foram transformadas pelo estudo”.

Ao longo da entrevista, mesmo realizada on-line, foi possível sentir o amor e a devoção de Luís Otávio à profissão, a qual ele relatou algumas situações que o marcaram, inclusive milagres que presenciou.

O médico, que é Clínico Geral formado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS, também passou por colégios rio-pardenses, entre eles Degrau COC, Lumen, além do COC/Ribeirão Preto. Ele destacou os desafios da Medicina neste período de Pandemia, bem como a sensação de impotência em salvar uma vida diante do descaso de um sistema de saúde falido.

Embora diante do enfrentamento de inúmeros obstáculos, o jovem médico guarda um grande sonho pessoal e profissional. Vamos sabe-lo na matéria que vocês, internautas, acompanham na íntegra abaixo.

Dr. Luís Otávio, por que optou pela Medicina? Você teve alguma influência para essa decisão?

Dr. Luís Otávio dos Santos Alves: A minha relação com a medicina nunca foi uma opção, era mais uma paixão tão intensa que fez com que toda minha vida se tornasse dedicada a ela. A medicina une as duas coisas que eu mais amo no mundo: a ciência e o amor ao próximo. Nunca tive influências. Não tenho familiares médicos e venho de uma família humilde, de pessoas simples, cujas vidas foram transformadas pelo estudo.

O doutor se recorda quando, onde e com quem foi sua primeira consulta?

A minha primeira consulta ocorreu no Pronto Socorro aqui de São José, com um senhor que estava com Enfisema Pulmonar descompensado. Esse idoso foi medicado por mim e rapidamente apresentou melhora respiratória e eu senti aquela alegria de poder melhorar a vida das pessoas.

Em quais locais você presta seus serviços atualmente e em quais áreas da Medicina?

Tive e tenho o privilégio de atuar em todas as cidades da região: Tapiratiba, Vargem Grande do Sul, São João da Boa Vista, Caconde, São Sebastião da Grama, Mococa, Casa Branca, Divinolândia, dentre outras. Atualmente atuo como clínico geral em Pronto Socorro, recebendo casos de urgência e emergência, as vezes em Postos de Saúde, com acompanhamento de doenças crônicas. Atendo também urgências e consultas de rotina em pediatria e até ginecologia e obstetrícia, mas sempre com respaldo dos especialistas e encaminhando quando for necessário. Tive também o prazer de trabalhar no setor da Oncologia do SUS aqui em São José do Rio Pardo e também tive o prazer de ser professor adjunto da disciplina de Urgência e Emergência da Faculdade de Medicina da UNIFAE, em São João da Boa Vista, com aulas práticas para os alunos dos últimos anos do curso de medicina.

No registro, o Dr.Luís Otávio como professor adjunto da disciplina de Urgência e Emergência da Faculdade de Medicina da UNIFAE, em São João da Boa Vista

Vamos falar um pouco sobre a Covid-19. Qual está sendo o maior desafio dos médicos neste período de pandemia?

Nosso maior desafio tem sido em relação às pessoas que ignoram nossas recomendações. Além disso, a pandemia escancarou nossas deficiências nos Sistemas de Saúde, nossa carência de médicos e outros profissionais de saúde, má remuneração, de leitos de UTI, etc. Também estamos presenciando a politicagem, a corrupção e o mau uso do dinheiro público, do nosso suado dinheiro! Nós, profissionais da área da saúde estamos arriscado nossas vidas e até de nossas famílias e das pessoas que amamos para atender e servir. Acredito que se toda sociedade se unir e se houver restrições mais severas, com embasamento científico, nos espelhando nos países que obtiveram sucesso no manejo da pandemia, o benefício será maior para todos.

Qual foi o momento que mais lhe marcou na profissão?

Inúmeros momentos me marcaram até hoje e me fizeram um ser humano melhor e mais humilde. E sou capaz de afirmar que já presenciei milagres, que vi pacientes conseguirem se curar em situações cientificamente impossíveis. Tenho recordações de momentos bons e também de situações catastróficas, como acidentes e falecimentos de crianças, mas os momentos positivos superam os negativos. Recentemente recebi um paciente sofrendo um avassalador infarto agudo do miocárdio, e apesar de termos feito absolutamente tudo que nos era disponível, ele veio a falecer, mas antes disso, quando estava morrendo, ele começou a orar de uma forma tão verdadeira, enquanto estávamos correndo para colher exames e administrar medicamentos para reverter o quadro, ele passou a conversar com Deus, e durante sua oração no leito de morte, a dor cessou, não somente pelos potentes analgésicos, mas pela sua fé, e morreu sereno.

O que é o melhor e o que é o pior em ser médico?

O melhor de ser médico é poder por em prática a beleza da ciência, é poder trazer conforto e algumas vezes cura através do raciocínio clínico e da terapêutica farmacológica adequada. É fantástico e é um privilégio poder ouvir um paciente, examinar, dar um diagnóstico e curá-lo, poder ajudar as mais variadas pessoas: homens, mulheres, gays, trans, brancos, negros, imigrantes, crianças, idosos, ricos, pobres, todos somos iguais perante as enfermidades.

O pior de ser médico, na minha visão, não é nem perder o paciente, pois algumas vezes isso é inevitável, mas o mais doloroso é trabalhar sem recursos, é ver pessoas morrendo pois um exame que deveria ser feito com extrema urgência, no máximo em uma semana, demora meses, que encaminhamentos e vagas para cidades com recursos mais abundantes são negados ou são lentos e acabam por tirar tantas vidas e tantos sonhos… situações que poderiam ser evitadas se tornam tragédias para famílias inteiras, pois o sistema está falido, lotado, sucateado e isso muito antes da pandemia. Questões de saúde e de vida são sempre urgentes, mas frequentemente me sinto nadando contra a maré, lutando com todas as minhas forças, de forma exaustiva, contra um sistema que parece nos ignorar, sejamos médicos ou pacientes. Mas eu não desisto e não perco a esperança e por mais que fique muito angustiado, persisto lutando.

A Medicina é dom, dedicação ou conhecimento?

Medicina é tudo isso: dom, vocação e conhecimento. É estudar de forma voraz e contínua, é sacrificar fins de semana e feriados aos pacientes, é acordar de madrugada para ir ajudar e, ao contrário do que muitos pensam, emocionar-se com os pacientes. É uma vocação de amor e sacrifício e realmente é semelhante a um sacerdócio.

Como médico, qual é seu maior sonho?

Antes de ser médico, sou ser humano, então meu maior sonho é a paz. Gostaria que pessoas morressem pela idade e não baleadas, agredidas, acidentadas por imprudências próprias ou alheias, que os suicídios, as overdoses, os homicídios, os vícios, os abusos fossem reduzidos. Gostaria que as pessoas vivessem bem e envelhecessem e morressem de causas naturais, pois é difícil aceitar essas situações que contrariam as leis da natureza. Sonho em ver cada vez menos mães perdendo seus filhos na juventude por causas banais. Dói muito ver destinos interrompidos e famílias dilaceradas pela dor por causas evitáveis. Eu sonho com a paz de espírito, cada um à sua maneira, e a paz entre os seres humanos.

Além da Medicina, Dr. Luís Otávio também é amante das artes: ele destacou um dos momentos mais felizes de sua vida junto a Edita Gruberova, uma soprano eslovaca de renome mundial, durante encontro em Munique, na Alemanha
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