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“Seu” Oscar: Há 58 anos tocando trombone na Corporação Musical

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Ele contou que sua paixão pela música foi despertada pelo ‘nono’ e estimulada pelo saudoso maestro Carmelo Cônsolo

Entrevista e texto: Natália Tiezzi

Ele é carismático, tem um fôlego invejável à altura de seus 78 anos, além de ser muito emotivo. Nossa matéria destaque de hoje é mais que uma entrevista, mas uma homenagem a este grande músico e à Corporação Musical Euclides da Cunha, que, mesmo nestes tempos de Pandemia, alegra nossas noites de domingo, agora online.

O senhor Oscar Roque Simão é o mais experiente integrante da popular ‘banda’. São 58 anos dedicados a tocar trombone na Corporação, que se tornou sua ‘menina dos olhos’. A paixão pela música foi despertada pelo avô, chamado carinhosamente de ‘nono’ por ele, como típico membro de uma família italianíssima.

“Meu nono veio da Itália tentar a vida nestas terras e foi morar na Vila Costina. Lá formou uma banda com outros colonos. Ele tocava baixo-tuba, porém, após um tempo, a bandinha foi desfeita. Mas ficaram as lembranças dele tocando e isso me marcou muito a infância”, contou.

‘Seu’ Oscar iniciou sua trajetória na música assim como o avô, tocando em uma pequena banda. “Muitos anos depois de meu nono tocar, o então proprietário da fazenda, sr. Labieno Costa Machado quis fazer uma outra banda. A notícia se espalhou e logo muitos sitiantes quiseram participar, mas ninguém sabia tocar nenhum instrumento muito bem. Alguns não sabiam tocar nada, como eu”, explicou.

Porém, o fazendeiro contratou o saudoso maestro Carmelo Cônsolo para dar aula para as 48 pessoas que se interessaram e começaram a ter aulas com ele na própria fazenda. “Inclusive eu, que na época tinha 17 anos. Utilizávamos os velhos instrumentos da antiga bandinha, guardados na Vila Costina”, contou.

Em meio às histórias que foram surgindo ao longo da entrevista, seu Oscar se emocionou ao falar do pai e de como fazia as lições de música passadas pelo maestro Cônsolo. “Meu pai não teve essa oportunidade de aprender a tocar um instrumento. Ele sempre me incentivou e até comprou um trombone para mim. Sabe como eu fazia as lições que o sr. Carmelo passava nas aulas? Embaixo dos pés de café, ora trabalhando, ora estudando, mas nunca deixei de fazer nenhuma delas. Foi assim durante três anos”, disse, com os olhos marejados.

DA BANDINHA DA FAZENDA À “CORPORAÇÃO MUSICAL RIO-PARDENSE’

Conforme o tempo foi passando, os integrantes da bandinha da fazenda, que animavam os bailes e encontros rurais, foram desistindo da mesma. “Ficaram uns 6 apenas. E quando tinha algum baile os músicos da Corporação tinham que reforçar”, lembrou.

Como poucos músicos sobraram na bandinha, o maestro conversou com o fazendeiro e disse que não era mais possível continuar com as aulas. “Foi então que o sr. Labieno e meu pai, que sabiam o quanto eu gostava de música e de tocar meu trombone, me incentivaram a tocar na então Corporação Musical Rio-Pardense. Na época, além de mim, mais dois companheiros vieram. Todo domingo era sagrado: eu saia de casa umas 16h00 para ‘pegar’ o trem e voltava no noturno da meia noite”.

O músico fez questão de mencionar a afeição e amizade que teve pelo mastro Cônsolo. “O Carmelo foi um segundo pai para mim. Ele sempre foi muito atencioso conosco nas aulas de música. Além disso, tinha muita paciência! Ele foi meu mentor na música. Jamais esquecerei do meu professor e amigo”, relatou, novamente emocionado.

Orgulhoso, ele exibe a carteira de músico profissional, que tem mais de 50 anos

OS NOVOS TEMPOS DA ‘BANDA’

Seu Oscar contou um pouco da história da Corporação Musical. “Teve uma época que a cidade tinha duas bandas: a Corporação Musical Rio-Pardense e a Corporação Musical Euclides da Cunha, mas depois de um tempo a Rio-Pardense acabou e eu ingressei na Euclides da Cunha, inclusive presidindo-a por 7 anos.

É certo que seu Oscar ensinou muita gente que passou pela Corporação nestas quase seis décadas, mas ele confessou que também aprendeu e aprende muito com os mais músicos mais jovens, inclusive com o atual presidente, Alex Matheus Battaglia. “Eu me lembro quando o Manoel Rueda, que também foi maestro, trouxe o Alex na Corporação. Ele era um molecote de uns 12 anos. Recordo-me que ele se sentou ao meu lado e eu disse para ele: para ser músico tem que ser teimoso e um dia você será melhor que eu! Dito e feito: hoje ele é melhor que eu mesmo”.

Ele falou com muito carinho e respeito de Alex, por quem tem uma profunda admiração. “O Alex, na verdade, reergueu essa Corporação e não a deixou morrer, porque isso iria acontecer. Ele é jovem, tem idéias boas e inovou com arranjos nas músicas. Hoje a ‘banda’ toca de tudo devido ao arrojado Alex e pelos bons músicos que ele também trouxe à Corporação. Admiro muito ele como grande pessoa e músico que é”.

“DEIXO TUDO PARA TRÁS PARA TOCAR MEU TROMBONE”

A paixão e dedicação do seu Oscar pela música e pela Corporação não conhece limites. “Estou com quase 80 anos e deixo o trabalho que for para tocar meu trombone aos domingos”, disse.

Ele, que além de músico também já foi caminhoneiro por mais de 30 anos, hoje divide seu tempo no trabalho em seu pesqueiro e, claro, nos ensaios e apresentações da Corporação.

Sobre momentos marcantes, seu Oscar citou inúmeros na ‘banda’, como, por exemplo esta nova fase com as apresentações online, além dos mais de 40 carnavais que participou tocando seu trombone. “É tanta história para contar que faltaria espaço aqui. Mas todas boas recordações. Quem diria que aquele rapaz que estudava as lições do sr. Carmelo Cônsolo debaixo do cafezal iria se tornar um músico? Não foi fácil, mas valeu a pena”.

Depois destes depoimentos emocionados, o que será que a música representa na vida de seu Oscar? “Música para mim é alegria, é vida. Você não faz ideia como eu gosto de tocar na Corporação. Nem quero pensar em parar! E, como eu já disse, só não vou quando estou doente. Do contrário, largo o que eu estiver fazendo para tocar meu inseparável trombone”, concluiu.

Seu Oscar e seu inseparável trombone: primeiro instrumento foi dado pelo pai quando começou a aprender música

“Assim que comecei a tocar na Corporação, o sr. Oscar foi meu mentor. Sempre me incentivou dando dicas e, principalmente, lições de vida! Se tornou mais que um companheiro na música, mas um grande amigo, a quem tenho muito respeito e estima” – Alex Matheus Battaglia, presidente da Corporação Musical Riopardense (Banda Euclides da Cunha).

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