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Mamãe Lígia: Quando a maternidade ultrapassa o ‘aprender a cuidar de um filho’

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Dizem que quando uma gestante chega ao hospital para ter um bebê ela entra mulher e sai mãe: e isso em questão de dois ou três dias. E se já é difícil ter que aprender a cuidar de um recém-nascido, a mudar a rotina e todas as demais situações que implicam o também ‘nascimento’ de uma mamãe, imagine quando as coisas não acontecem conforme o programado ou planejado…

Em homenagem a todas essas mulheres, sejam mães biológicas, do coração, avós, tias, madrinhas, enfim, pessoas que abdicaram suas vidas para dar amor, carinho e educação a uma criança, apresentamos a mamãe Ligia Lopes Rueda Kocian, cuja relação com a maternidade foi e vai muito além de aprender a cuidar de um filho.

Ela, que recebeu a reportagem de minhasaojose em sua residência, acompanhada do marido, o professor e vereador Rafael Kocian, contou as angústias, medos e o inexplicável sentimento de amor incondicional de ser a mamãe de um casalzinho de gêmeos muito especial: Heitor e Rafaela, que completarão 4 meses no próximo dia 19 de maio.

O DIFÍCIL CAMINHO À GRAVIDEZ

Após cerca de quatro anos de casamento, Lígia e Rafael conseguiram mais estabilidade, tanto financeira, quanto na própria rotina de ambos e começaram a pensar em ter filhos. E, assim como acontece com inúmeros casais, não conseguiam engravidar. “Fomos há vários médicos e, aparentemente, tudo estava normal, mas a gravidez não vinha. Esperamos por mais um ano para tenta-la de forma natural, mas, novamente, em vão. Foi então que, por meio de uma amiga, visitamos um médico em São Paulo. Por lá também passamos por vários exames e, enfim, o médico nos apresentou um possível caminho: a fertilização in vitro”, explicou Lígia.

E, após uma série de etapas prevista neste tipo de tratamento, eis que na primeira tentativa dois embriões foram transferidos ao útero, sendo que um deles permaneceu. “O tratamento não foi fácil. Foram altíssimas doses de hormônio… Seu humor muda, seu corpo muda, seu pensamento muda, enfim, as mudanças não são apenas físicas, mas psicológicas. Mas, enfim, estava grávida”, disse Lígia.

Tudo corria bem quando, na oitava semana de gestação, após passar por um ultrassom veio a triste notícia: o feto não estava se desenvolvendo e a única opção dada pelo médico foi uma curetagem, cujo procedimento foi feito aqui em São José. “Foi a pior viagem das nossas vidas. Viemos de São Paulo a São José com um misto de sentimentos, uma sensação de impotência, uma tristeza profunda”.

Mas o casal não desanimou. Lígia se recuperou e como ainda tinha 8 embriões congelados, optou por uma nova tentativa. “E aí mais uma decepção. Destes 8 ficaram apenas 2, perdemos seis deles, e os que ficaram apresentaram alterações genéticas. Neste momento, tanto eu, quanto o Rafael, ponderamos que era o momento de dar um tempo no tratamento e foi o que fizemos. Tínhamos que nos recuperar física e mentalmente”.

E o sonho da gravidez, apesar de adiado, nunca foi desacreditado. “Após um ano retornamos com todos os procedimentos. Dessa vez foram 5 embriões, sendo que três deles chegaram ao 5º dia. Um deles apresentou novamente alterações genéticas, mas os outros dois estavam normais. E foi assim que engravidei dessas duas bênçãos”, contou Lígia.

O PRAZER E A DOR DE SER… MÃE

A gravidez de Lígia foi muito tranquila e os gêmeos nasceram de 37 semanas, em São Paulo e talvez essa escolha por te-los na capital tenha feito toda a diferença. “Ambos nasceram dia 19 de janeiro, muito bem, com peso adequado, mas desenvolveram icterícia. Passaram pelo banho de luz e a bilirrubina em Heitor baixou. Já em Rafaela só aumentava. Foi então que, através de exames detalhados, descobrimos que ela não tinha a vesícula, e uma doença chamada atresia das vias biliares, ou seja, o canal que liga fígado, vesícula biliar e intestino, nasceu obstruído. O caso era raro, grave e inspirava cuidados, pois o fígado não conseguia enviar a bilirrubina para o intestino para eliminação e tudo permanecia no corpinho dela. O médico explicou que se isso permanecesse por mais de 60 dias, Rafaela teria que passar por um transplante de fígado, já que sem a possibilidade de eliminar a bilirrubina, o órgão ficaria sobrecarregado, chegando à falência”.

E aí vieram novamente à tona as angústias e os medos, pois a pequena Rafaela teria que passar por uma cirurgia. “Apesar do momento difícil, estávamos em um hospital preparado e a médica que cuidava da Rafaela é a maior referência brasileira nestes casos. Sabíamos que estávamos em boas mãos. A opção por te-los em São Paulo ajudou a salvar a vida da nossa filha”, destacou Rafael.

Com apenas 11 dias, Rafaela passou pela cirurgia, intitulada Kasai, onde é reconstruído um canal ligando o fígado ao intestino para a eliminação da bilirrubina. “Ainda na UTI, após o procedimento, Rafaela desenvolveu uma colangite, inflamação do novo canal que havia sido feito na cirurgia. E lá se foram mais alguns dias de internação, sendo ao todo 45 dias na Unidade de Terapia Intensiva”, disse Lígia.

O momento mais doloroso para Lígia, além, é claro, do tratamento de Rafaela, foi sair da maternidade com apenas um filho. “Foi muito triste… Mudamos todos os nossos planos, a nossa rotina, pois nos dividíamos entre a casa onde estávamos e o hospital. E Heitor colaborou tanto! Era um bebezinho muito tranquilo, que se acostumou a ficar com outras pessoas sem ser a mãe o tempo todo. E isso nos ajudou muito. Além dele, o Rafael foi essencial para que eu não desanimasse, porque não é fácil conviver em um ambiente de UTI neonatal. Desgasta, cansa, dói, entristece. Mas ele sempre esteve ali, ao meu lado, me dando forças, me passando coisas positivas. Se não fosse ele eu não teria conseguido. Essa união e cumplicidade do casal também é fundamental nestes momentos”, ressaltou Lígia.

Todavia, a felicidade do convívio familiar entre o casal e os filhos durou pouco. Já em São José, na residência da família, três semanas após a alta hospitalar, Lígia percebeu que Rafaela não estava bem. “Ela vomitou fezes e imediatamente entrei em contato com o pediatra, que nos informou que ela teria que ser internada no Hospital das Clínicas em São Paulo para avaliação do caso, que poderia ser em decorrência da própria cirurgia. E lá descobrimos que ela estava com bridas no intestino, que são membranas ou cordões de tecido cicatricial que, geralmente, se formam após uma cirurgia ou inflamação abdominal”.

Rafaela passou por nova cirurgia, ficou internada mais 11 dias na UTI, e terá que fazer acompanhamento periódico devido à primeira cirurgia. “Não há certeza de que a cirurgia vai dar certo. Teremos que aprender como, aliás, estamos aprendendo a lidar com essa realidade. Ela toma antibióticos justamente para não sofrer novamente uma colangite. E apesar disso, é uma menininha esperta, de personalidade forte, que aceita tomar seus remédios numa boa”.

Sonho realizado: Heitor e Rafaela são a alegria da casa e esbanjam muito charme e alegria

APRENDIZADO PARA A VIDA: TUDO AO TEMPO DE DEUS

Filhos ensinam muito mais do que aprendem, isso é fato. No caso de Lígia e Rafael, o aprendizado foi ainda mais intenso devido a tudo que passaram para finalmente ter Heitor e Rafaela junto a eles. Mas, duas lições o casal levará por toda a vida.

“A primeira acho que foi vermos e sentirmos a ação da fé a da ciência caminhando lado a lado, tanto na questão da gravidez da Lígia, quanto nas cirurgias da Rafaela. A fé que aprendemos a ter e a confiança nela, aliada à ciência nos fez entender que ambas podem e devem caminhar juntas, sempre”, afirmou Rafael.

“Acho que depois de tudo que passamos, uma das maiores lições é que tudo acontece na vida da gente no tempo de Deus. Não adianta querermos reger tudo pela nossa vontade, pelo nosso tempo, pelo nosso relógio… Deus age na hora exata, sempre!”, observou Lígia.

E, como hoje é Dia das Mães, Lígia deixou uma mensagem a todas as mulheres que sonham com a maternidade ou que estão passando por um momento delicado com seus filhos. “Às futuras mamães e já mamães, minha mensagem é: não desistam! Não desistam de engravidar, de tentar… Não desanimem de cuidar do filho doente… Eu sei o quanto é difícil, mas creia, tudo vai ficar bem. Vocês não estão sozinhas. Existem inúmeras mulheres passando por isso também. Acreditem, busquem o tratamento mais indicado para que a gestação aconteça, inclusive acessíveis para famílias que não tem condições, tanto em clínicas particulares quanto em hospitais públicos e universidades. E acreditem: tudo realmente é no tempo de Deus. Um Feliz Dia das Mães”.

Além de Heitor e Rafaela, o casal também três ‘filhos de quatro patas’, que demonstram todo carinho e amor aos gêmeos
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