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Dia do Professor: Wanderley Calório fala sobre seus 40 anos em sala de aula

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Conhecido (e até temido) por alguns alunos, ele ministrou aulas de Física em inúmeras escolas e também na FEUC

Reportagem e Texto: Natália Tiezzi Manetta

É difícil encontrar algum rio-pardense que foi estudante nas décadas de 80 e 90 que não conheça ou já tenha sido aluno do professor Wanderley Antônio Calório. Muito querido (e até muitas vezes temido), ele ministrou por décadas a disciplina de Física em escolas de São José e região e também foi mestre na Faculdade Euclides da Cunha.

Em homenagem a todos os professores e professoras rio-pardenes, a reportagem entrevistou Wanderley que contou que não imaginava que seria professor, mas que sempre foi um excelente aluno em disciplinas como Matemática e Ciências.

De família humilde, porém muito conhecida na cidade, o Magistério entrou em sua vida antes mesmo de cursar uma faculdade. “Eu era um aluno muito quieto, gostava de ler e ficava sempre no meu cantinho. Por conta disso, durante uma reunião, professores recomendaram aos meus pais que eu fizesse o antigo ‘Colegial’ em Mococa, na tradicional “Eletrô”. A intenção era que eu morasse na cidade vizinha em uma república, entretanto, meus pais não permitiram isso. Como a escola era tempo integral, onde se fazia o colegial de manhã e o curso técnico em Eletrotécnica e Eletrônica à tarde o jeito foi viajar todos os dias”, contou.

E isso acabou ajudando Wanderley a se expressar melhor. “Tinha que conversar com os motoristas dos ônibus, com as várias caronas, enfim, essa vida de ir e voltar todos os dias para estudar me ajudou muito na questão de sociabilidade”.

A primeira experiência que teve ensinando foi na própria Escola Técnica Industrial João Batista de Lima Figueiredo, onde, no intervalo das aulas, Wanderley ‘ia para a lousa’ e ensinava seus colegas com dificuldades nas matérias.

“Porém, quando chegou a época do estágio, eu gostaria muito de faze-lo na própria Eletrô, mas o diretor disse que eu não poderia ser professor pelo meu jeito muito quieto… que eu jamais saberia ‘dominar’ uma sala de aula. Confesso que aquilo que me deixou um pouco triste, pois eu gostava de ajudar meus colegas, mas tive que procurar outro lugar para estagiar. E isso aconteceu na Companhia Paulista de Energia Elétrica – CPEE”.

ELE ABANDONOU O CONCURSO PARA SE DEDICAR AO MAGISTÉRIO

Após concluir o estágio, Wanderley prestou concurso para ingressar na CESP, em Santa Barbara D´Oeste, entretanto, uma notícia no rádio chamou a atenção de sua mãe, a qual dizia que o Colégio Estadual Euclides da Cunha estava a procura de professores em áreas específicas em que ele havia se formado técnico em Mococa.

“Acho que a possibilidade de trabalhar na minha querida cidade, bem como o salário falaram mais alto e eu deixei o concurso de lado. Ingressei como professor na escola em 1978 e, pouco tempo depois, incentivado pelos meus colegas professores, cursei Ciências, com habilitação em Fisica na Unifeg, em Guaxupé”.

Após esse período, Wanderley se especializou em Ensino Superior pela Unaerp e em Física pela Unifeg. “Me efetivei como professor em Itapira e Espírito Santo do Pinhal e permaneci 7 anos fora de São José. Durante este tempo fiz pós graduação Stricto Sensu em Física na UNICAMP. Estudava de dia em Campinas e lecionava à noite em Pinhal”, contou.

Wanderley, que também possui formação em Pedagogia, lecionou e foi diretor em diversas escolas da região, públicas e particulares, sendo em São João da Boa Vista, Vargem Grande do Sul, Tapiratiba, Itobi e Casa Branca. Ele também foi Diretor da Escola Cáritas entre os anos de 1989 e 1991.

Ja na FEUC, Wanderley iniciou como professor em 1983 lecionando disciplinas ligadas às Ciências e, claro, Física. “Ministrei aulas até o ano passado. Hoje atuo como Coordenador de Apoio ao Estudante, uma espécie de Ouvidoria para auxiliar a resolver inúmeros problemas e dificuldades dos universitários da faculdade”, explicou.

UM JEITO DIFERENTE DE ENSINAR FÍSICA

Wanderley tinha um jeito diferente de ensinar Física, uma das matérias mais temidas e, muitas vezes, difíceis de ser compreendidas por grande parte dos alunos. “Não gostava muito de seguir livros. Minhas aulas eram baseadas em exemplos práticos, com elementos da própria natureza. Acho que isso fazia a diferença e atraía a atenção dos alunos”, observou.

Sobre o melhor e o pior em sala de aula, ele destacou que o melhor era notar o aprendizado do aluno, que o mesmo estava realmente adquirindo conhecimento. Já o pior era notar o contrário: que o aluno não estava aprendendo porque a base esducacional que teve foi muito ruim. “É muito difícil ensinar Física ou qualquer outra disciplina que envolva cálculos se o aluno mal sabe a tabuada. E senti isso até mesmo durante as aulas que ministrava na faculdade. As escolas estão formando analfabetos funcionais, que acreditam que sabem, mas que não sabem o mínimo justamente porque não tiveram uma boa base desde o Ensino Fundamental”.

Ele também comentou que esse declínio com relação à qualidade no Ensino começou em 1997 e se estabeleceu no ano 2000 com a desvalorização do professor, não apenas financeira, mas aos olhos da sociedade. “O professor perdeu sua autoridade até na sala de aula. Se ele chama a atenção do aluno, este volta-se contra ele, bem como algumas famílias, que antigamente ensinavam a respeitar os mestres, atualmente veem o professor como um inimigo dos filhos”, declarou.

Sobre a tecnologia, Wanderley disse que ela precisa ser incorporada de forma mais saudável no ambiente escolar. “É impossível fugir à ela, mas é preciso cautela para que o celular não domine a figura humana do professor, como, infelizmente, já vem acontecendo”.

DA SALA DE AULA AO COMÉRCIO

Atualmente, além dos trabalhos realizados na FEUC, Wanderley divide o tempo na empresa Delisy Moda Íntima, empresa que iniciou suas atividades em 2002 “Minha esposa Evelise Rigamontte Calório, que é psicóloga e psicopedagoga e eu optamos por uma nova área de atuação e estamos felizes com os resultados. Entretanto, recordo-me com carinho da sala de aula. Aprendi muito com meus alunos e acredito que tenha ensinado muito a todos eles, milhares, os quais ministrei minhas aulas ao longo destas quase quatro décadas. Acho que, entre todas as profissões que imaginei ser, entre elas até Médico e Advogado, bem como Padre, que era o sonho de minha mãe, a de professor foi a mais acertada. Fui muito feliz em todas as escolas e faculdades onde lecionei. Até hoje muitos ex-alunos me encontram pelas ruas e se lembram de mim, das minhas aulas. E isso é gratificante”, finalizou o professor.

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